quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2: o inimigo agora é outro

No segundo episódio de Tropa de Elite, José Padilha (o diretor), Rodrigo Pimentel (ex-comandante do BOPE e corroteirista) e Bráulio Mantovani tentam se livrar do fantasma do adjeitivo "fascista" associado ao filme na Europa. Para quem não entendeu a reação europeia e pensou ser mais uma discriminação devido ao filme ser brasileiro é só se colocar no lugar de um europeu, o qual viveu a 2a Guerra Mundial: quem se vestia de preto, possuía uma caveira como símbolo e invadia as casas, matando quem encontrassem pela frente? Entendeu? Bem, para quem não se lembra da história mundial, o BOPE tem bastante similiridade com a GESTAPO (polícia secreta de Hitler). E para quem ache forçada a comparação, por ter sido o regime nazista baseado no racismo, qual é a etnia da maioria dos moradores das comunidades carentes? Daí a reação europeia.

No segundo episódio os roteiristas politizam a temática do filme. Dessa vez o problema não é apenas o narcotráfico, mas a própria estrutura política do país, a qual sustenta todas as formas de corrupção. E o agora tenente-coronel Nascimento é apenas uma consequência dessa estrutura. Embora eu tenha gostado mais desse episódio do que do primeiro, a ideia de toda a estrutura política ser a causa dos nossos problemas não é nova. Mas o que mais me chamou a atenção é que o defensor dos direitos humanos no filme, a quem o tenente-coronel Nascimento tanto atacava, será o único em quem ele realmente poderá confiar. Apesar da ingenuidade política do personagem, sua visão linear da realidade, sua tendência fascista acobertada por uma população cuja cultura tem forte viés autoritário, o coronel Nascimento acaba finalmente entendendo o que os defensores dos direitos humanos tanto denunciam: não se resolve os problemas da desigualdade com mais desigualdade, nem com um aparato policial treinado, estritamente, para matar as classes subalternas; a questão é muito mais profunda e muito mais complexa do que o combate ao crime organizado nas áreas menos favorecidas.

O filme põe o dedo em uma ferida de muito difícil cicatrização. Se a sociedade de um país quiser resolver os seus problemas sociais, a mera policialização não será a solução, ainda que seduza as classes mais favorecidas por serem elas as menos afetadas por esse tipo de "resposta" aos problemas sociais.

Na sala onde assisti ao filme todos saíram em silêncio. O ar ficou pesado ao final do filme. Como definiu a colega de trabalho de minha esposa: "O filme é um soco no estômago". Será?

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