quarta-feira, 7 de abril de 2010

O racismo negado

Em minhas aulas surgem muitas discussões sobre a questão racial no Brasil, e o argumento mais comum contra a existência do racismo nessas terras é o Pelé. Por ser rico, Pelé não sofreria nenhum tipo de preconceito e, portanto, não haveria racismo no Brasil, mas apenas falta de desenvolvimento econômico. O argumento impressiona porque o tiro sai pela culatra. Quem assim argumenta não percebe:

1) afirma um único negro como bem sucedido (exceção, portanto) - e os outros milhões?;

2) não se segue que Pelé não tenha enfrentado preconceitos quando iniciou sua carreira e mesmo já conhecido nacionalmente (somente mais tarde, internacionalmente conhecido, passa a ser "aceito" por ser "um negro de alma branca");

3) afirma o enorme preconceito contra os menos favorecidos a fim de ocultar o preconceito racial.

Porque o Brasil ainda não resolveu as diferenças entre os muito ricos e os muito pobres, não se segue que não haja preconceitos raciais em terras brasilis. O Brasil assumiu em 1806 todas as rotas de tráfico negreiro (proibido pela Inglaterra no mesmo período) e foi o maior mercado de escravos no século XIX (Rio de Janeiro e Salvador - sendo o último país a abolir a escravidão).

É esse o país sem racismo?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O experimento Milgram

O psicólogo social Stanley Milgram nasceu em 1933 e faleceu em 1984. Na década de 60, auge da guerra fria e início dos conflitos entre os EUA e o Vietnam, Milgram realizou dois experimentos que assombraram o mundo. No artigo seguinte Milgram demonstra a obediência sob autoridade rígida. Nesse primeiro experimento Milgram colocou pessoas em duas salas distintas. Na primeira estava um aparelho de dar choques. Na segunda as pessoas que deveriam levar choques quando fosse ordenado por uma terceira pessoa (vestida de jaleco branco e identificada previamente como "doutor"). Quando os "doutores" mandavam, as pessoas obedeciam e aplicavam choques (sem saber que eram falsos) com limiares que variavam de "dor intensa" até "fatal", sem se importarem aparentemente com os gritos que o segundo grupo apresentava (o primeiro grupo não sabia que era apenas encenação, agiam pensando ser real). O outro experimento foi realizado com dois grupos de universitários (um simulava ser de "prisioneiros", o outro de "carcereiros"). Durante o experimento os "carcereiros" começaram a maltratar os "prisioneiros" exatamente como nos prisídios reais. O experimento foi suspenso e causou enorme controvérsia. Os resultados indicaram que sob autoridade rígida muitas pessoas agem sem nenhum senso de humanidade. Boa leitura.


Milgram's personal archive reveals how he created the 'strongest obedience situation'
Stanley Milgram's 1960s obedience to authority experiments, in which a majority of participants applied an apparently fatal electric shock to an innocent 'learner', are probably the most famous in psychology, and their findings still appall and intrigue to this day. Now, in a hunt for fresh clues as to why ordinary people were so ready to harm another, Nestar Russell, at Victoria University of Wellington, has reviewed Milgram's personal notes and project applications, which are housed at Yale University's Sterling Memorial Library.

Milgram trained under Solomon Asch, author of the famous conformity experiments, and the obedience project was originally conceived as an extension of Asch's work. Milgram was going to see how the behaviour of a group of cooperating participants (actually confederates working for the researcher) influenced the naive participants' willingness to harm another. A condition in which single participants followed the experimenter's orders on their own was planned as a mere control condition.

It was during Milgram's extensive pilot work that he discovered the remarkable willingness for participants to obey instructions, without the need for group coercion, thus changing the direction of his project. The focus shifted to lone participants and Milgram began a process of trial and error pilot work to identify the perfect conditions for inducing obedience - what he described as 'the strongest obedience situation'.

Early on, Milgram recognised the need for an acceptable rationale for harming another and so he invented the cover story that the experiment was about using punishment to improve learning. To counter participants' reluctance to harm an innocent person, Milgram also devised several other 'strain resolving mechanisms'. This included replacing the final shock level label 'LETHAL' with the more ambiguous 'XXX'; removing a Nazi-sounding 'pledge to obey' from the experiment instructions; and creating physical distance between the participants and the innocent, to-be-electrocuted learner.

In fact, this latter factor worked too well. When Milgram removed any sight or sound of the learner, 'virtually all' participants showed a willingness to inflict lethal harm. Milgram realised this near-total obedience was counter-productive and would prevent his paradigm from 'scaling obedient tendencies'. For his first official experiment he therefore settled on auditory feedback only, in the form of the learner banging on the wall in distress.

Another 'strain resolving mechanism' that Milgram devised included increasing the number of levels on the shock generator. This allowed for exploitation of the 'foot in the door' persuasion effect whereby people are more likely to cooperate once they have already agreed to a less significant request - a kind of piecemeal compliance.

Milgram was also careful about the actors he chose to play the part of experimenter and learner. Though both non-professionals, the man acting as learner was chosen because he was 'mild and submissive; not at all academic' and a 'perfect victim', whilst the man playing the experimenter was 'stern' and 'intellectual looking'. Finally, Milgram was careful to plan things so that the 'experimenter', whenever challenged, replied that he was responsible for anything that happens to the learner.

Taken altogether, Russell's new analysis shows how Milgram used ad hoc trial and error pilot testing to hone his methodology and ensure his first official obedience experiment achieved such a high obedience rate (of 65 per cent). 'Knowing step-by-step how Milgram developed this result may better arm theorists interested in untangling this still enigmatic question of why so many participants inflicted every shock,' Russell said.

Fonte: http://bps-research-digest.blogspot.com/2010/04/milgrams-personal-archive-reveals-how.html

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Como se concentrar (para além do mero discurso da "auto-ajuda")

Eis um artigo interessante do mundo desportivo sobre a concentração, sua amplitude e manutenção. Boa leitura.


Os cinco elementos essenciais à concentração


por Renato Miranda


Um dos assuntos mais discutidos e estudados no esporte é sobre a importância da concentração no rendimento do atleta. A concentração é uma habilidade tão significativa no desempenho do atleta que extrapola o meio esportivo. Significa que várias estratégias de orientação e melhoria da concentração são dinamizadas além do esporte e muitos procedimentos, de maneira pertinente, são reverberados em vários setores de nossas vidas, como na administração de empresas, na indústria, no meio acadêmico, nas artes, na mídia e outros.

Por se tratar de assunto muito em voga e instigante dividirei minhas idéias em dois textos. Em um primeiro momento os componentes que formam o conceito de concentração serão abordados e no segundo texto falaremos sobre os fatores que auxiliam e aqueles que prejudicam a concentração. Em suposto, no final dos textos você terá bons instrumentos para treinar e melhorar sua concentração, ou ao menos, entender um pouco mais sobre essa habilidade psicológica de grande relevância.

O que é concentração?

Concentração é capacidade pessoal de provocar um estado de sensibilização para ficar em alerta, selecionando unidades importantes de informação entre milhares disponíveis. Ao mesmo tempo, bloquear o impacto de sinais irrelevantes e focar sinais relevantes da tarefa, direcionando os pensamentos para o plano de ação.

Os componentes que formam o conceito de concentração podem ser assim resumidos: sensibilização, foco seletivo, manutenção do foco, consciência da situação e harmonia da excitação emocional.

1º) Sensibilização

Para iniciarmos o processo de uma boa concentração antes de tudo é necessário auxiliar nosso organismo (corpo/mente) a acionar da melhor maneira possível todos os órgãos sensoriais envolvidos na ação em questão para ficarmos ativos. Já reparou como os atletas antes da competição fazem exercícios respiratórios e movimentos com grande intensidade e de curta duração (saltito, agitação de braços e mãos, pescoço e outros). Isso por que para concentrarmos precisamos estar em alerta e perceber aquilo que é significante para nossa ação. Nesse sentido a sensação (registro dos estímulos feito pelos órgãos sensoriais) é considerada a primeira etapa da percepção. Ou seja, não há uma boa percepção sem um bom registro dos estímulos (sensação!), portanto, o primeiro passo para concentrarmos é manter nossos órgãos sensoriais em ótimo nível de funcionamento. Por isso é que se diz que aprender é perceber, sem percepção não há aprendizagem, pois não há concentração.

2º) Foco seletivo

Significa selecionar, no ambiente da ação e em nossa mente, entre os vários sinais (estímulos) disponíveis, somente aqueles que são significativos para a nossa tarefa e ao mesmo tempo desfocar todos os sinais irrelevantes.

3º) Manutenção do foco

Não é suficiente para uma boa concentração “apenas” selecionar aquilo que tem que ser focado, mas é necessário manter essa focalização do início ao fim da tarefa. E aí está uma grande exigência para o sucesso, manter o foco resistente até o fim da tarefa. Talvez seja isso que explica em parte, equipes e atletas que vão bem durante grande parte da disputa, mas por um momento perdem o foco o que significa dispersar energia psíquica e por vezes, é fator determinante para a derrota e frustração.

4º) Consciência da situação

Em poucas palavras é dominar a exigência técnica e o plano de ação (tática) daquilo que se tem a fazer ou parte do que se está aprendendo. Veja o exemplo: Posso saber como me concentrar, mas se me disserem para subir em um avião e saltar de pára-quedas, não terei possibilidades nenhuma de concentrar por mais que eu saiba como fazê-lo, isso por que não tenho consciência de quais procedimentos, técnica e demais comportamentos que tenho a fazer e não seriam suficientes algumas instruções. Todo um processo de aprendizagem e treinamento prévios são condições para enfim poder concentrar.

5º) Harmonia da excitação emocional

Para atingir um bom nível de concentração além de tudo já dito, é preciso regular o estado emocional a fim de evitar tensões, apreensões, nervosismo e outros sentimentos correlatos. Esses sentimentos invadem a nossa mente geram aflição e pensamento negativo, causando impedimento para organizar e sistematizar nossas ações. Assegurar sentimentos compatíveis com a tarefa a ser realizada é pré-requisito para liberar nossa energia psíquica de maneira positiva e só assim será possível concentrarmos de fato. Portanto, nível adequado de relaxamento, controle do estado de ansiedade, confiança e motivação adequada, por exemplo, fazem com que a mente tenha condições favoráveis de “trabalhar suavemente”, com precisão e com pensamentos positivos.

É preciso uma ótima harmonização do estado de excitação emocional, a fim de focar pensamentos positivos e desfocar pensamentos negativos.

Quando entendemos esses elementos que compõem o conceito de concentração damos o primeiro passo para melhorarmos nossa capacidade de agir com eficácia. Os esportistas altamente especializados sabem exatamente o valor e como melhorar a concentração. Tanto é assim que muitos especialistas em esporte freqüentemente são convidados a auxiliarem profissionais de outras áreas que enfrentam competição e uma exigente rotina de trabalho.

Para finalizar, é válido refletir que sem concentração não conseguimos realizar nenhuma atividade de alto rendimento. Uma atividade sem concentração ideal é uma atividade sem intensidade e sem coerência, portanto, sem qualidade.


Renato Miranda 
é graduado em Educação Física (UFJF) e possui mestrado e doutorado em Psicologia do Esporte com especializações: Escola Superior de Esporte Alemã e Instituto de Cultura Física de Moscou.


Fonte: http://www2.uol.com.br/vyaestelar/concentracao.htm