quarta-feira, 7 de abril de 2010

O racismo negado

Em minhas aulas surgem muitas discussões sobre a questão racial no Brasil, e o argumento mais comum contra a existência do racismo nessas terras é o Pelé. Por ser rico, Pelé não sofreria nenhum tipo de preconceito e, portanto, não haveria racismo no Brasil, mas apenas falta de desenvolvimento econômico. O argumento impressiona porque o tiro sai pela culatra. Quem assim argumenta não percebe:

1) afirma um único negro como bem sucedido (exceção, portanto) - e os outros milhões?;

2) não se segue que Pelé não tenha enfrentado preconceitos quando iniciou sua carreira e mesmo já conhecido nacionalmente (somente mais tarde, internacionalmente conhecido, passa a ser "aceito" por ser "um negro de alma branca");

3) afirma o enorme preconceito contra os menos favorecidos a fim de ocultar o preconceito racial.

Porque o Brasil ainda não resolveu as diferenças entre os muito ricos e os muito pobres, não se segue que não haja preconceitos raciais em terras brasilis. O Brasil assumiu em 1806 todas as rotas de tráfico negreiro (proibido pela Inglaterra no mesmo período) e foi o maior mercado de escravos no século XIX (Rio de Janeiro e Salvador - sendo o último país a abolir a escravidão).

É esse o país sem racismo?

Um comentário:

Walner Mamede Júnior disse...

Faço minhas suas palavras, Weber, e cito uma situação recente que se passa com meu filho, a quem já chamei a atenção e expliquei o motivo. Passo à descrição do caso: chegou-me ele em casa, da escola, com uma peculiar expressão que explicita o preconceito já entre crianças e adolescentes. A expressão a que me refiro é "filho duma preta", a qual é utilizada em momentos nos quais se deseja desqualificar um colega em alguma brincadeira ou desentendimento. Tal expressão denota claramente o preconceito racial latente em seu cotidiano. Evidentemente, tal atitude não se construiu gratuitamente em seu meio infantil, mas graças à reprodução de condutas observadas no mundo adulto. Ao conversar com ele (já sob a exigência de não reproduzir essa atitude), explicitou sequer ter noção do conteúdo discriminatório da expressão e que a verbalizava por ser algo recorrente em seu meio escolar. Contudo, isso não isenta a expressão de seu conteúdo latente e sua reprodução repetitiva imprime no imaginário, hoje infantil e ingênuo, a noção de que o 'ser negro' é algo inferior ao 'ser branco', o que irá conduzir a concepções equivocadas sobre a questão racial no futuro adulto. Está aí instalado o preconceito, muitas vezes, inconsciente e que tanto prejuízo traz às relações interpessoais. Ele subjaz como brasa sob as cinzas, pronto para se inflamar ao menor sopro...e, acreditem, ele se inflama...nos mínimos detalhes.